sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Uma boa compra

Os sapatos e botas pendurados à porta lembram-nos formas de exposição dos produtos que há muito foram substituídas pelas aprendidas em cursos de formação na área do vitrinismo. 
Lá dentro, a confusão de caixas em prateleiras e no chão fazem-nos imaginar que aquilo que pretendemos não irá ser encontrado. No entanto, surpreendentemente, a dona do estabelecimento que é, simultaneamente, empregada vai direita a uma caixa e dela tira o modelo e número das botas que, depois de experimentadas, se constata serem "mesmo aquelas".
Enquanto me atende, o seu marido, também na casa dos setenta e que com ela partilha a espera dos clientes, naquele espaço onde o cheiro do couro prevalece, permanece sentado a ouvir o rádio que já estava ligado quando entrei. Entre dois dedos de conversa, fico a saber que vieram, há muitos anos, da zona da Lousã para Lisboa e que, quando deixarem de trabalhar, ninguém dará continuidade ao negócio. 
E não se trata de defender algo que está condenado e não tem qualquer razão de existir nestes tempos de grandes grupos económicos cujas lojas, embora com diferentes nomes, vendem os mesmos produtos, fabricados em lugares distantes. Não! No dia anterior tinha tentado comprar umas botas daquele tipo noutro local e, além de serem muito mais caras, não tinham metade da qualidade que estas que agora levo, num saco sem qualquer logótipo, têm.

Do fundeadouro romano aos nossos dias não foi assim tanto tempo...

A maior parte desta notícia relativa à inauguração do parque de estacionamento subterrâneo na Praça D. Luís I, em Lisboa, dá conta da intervenção arqueológica e dos importantes vestígios que foram encontrados durante a sua construção. Felizmente, neste caso (tal não aconteceu noutros), foi possível retirar grande parte dos achados, estudá-los e até tornar visíveis alguns deles para quem venha a utilizar o espaço. É este o principal destaque da notícia.
Não deixa de ser significativo, no entanto, que o responsável da empresa que irá ter a seu cargo a gestão do parque, fale em "algumas vicissitudes, decorrentes dos achados arqueológicos"; e que Manuel Salgado, Vereador da Câmara Municipal, tenha identificado os trabalhos arqueológicos como uma das "dificuldades desta obra".
É claro que se não tivesse havido essa intervenção por parte dos arqueólogos talvez determinadas fases da obra tivessem avançado com mais rapidez. Mas não faz qualquer sentido continuar a estabelecer uma ligação entre os atrasos nas obras e os problemas que essa situação acarreta para as populações; e o trabalho necessário e fundamental para o conhecimento do património que, mesmo não estando à superfície, é de todos nós. Mesmo que a lei não obrigasse a tal (e obriga) esse trabalho deveria ser considerado como uma verdadeira oportunidade e não como uma adversidade.   
Por isso me parece que as entidades que têm responsabilidades na transformação da cidade têm também obrigação de, até na linguagem utilizada, não parecerem que estão a ser apenas condescendentes perante uma situação que, se pudessem, evitariam.
A defesa do património não pode ser algo a que muitos se referem como um chavão teórico que depois, na prática, é identificada como um obstáculo. 
Certamente, neste caso concreto, até a Empark ganhará pois, depois de ler a notícia, há-de haver quem irá deixar o carro neste parque só para ver expostos os materiais que a arqueologia permitiu trazer até nós. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O regresso do "homem-lapso"

Foi assim que Ricardo Araújo Pereira se referiu a ele no Verão de 2012. Nessa altura ainda Miguel Relvas era ministro. Ontem, ainda nem um ano depois da sua demissão, Pedro Passos Coelho apresentou o seu nome como cabeça de lista do Conselho Nacional do PSD.
Um partido é um partido e o PSD, apesar de estar no Governo, é apenas isso. E já sabemos que um partido tem regras e formas de se reproduzir muito próprias. 
Mesmo assim, se a escolha do líder do partido não pode ser considerada uma simples teimosia e tem razões que os próprios militantes parecem desconhecer; e muito menos concordar, é a posição de Miguel Relvas que me causa mais estranheza. As "condições anímicas" que, na altura, não tinha para continuar no governo não serão necessárias para este cargo muito mais leve e, além disso, a "vontade própria" que tem de estar num lugar de destaque deve ser, pelo menos, tão forte quanto a que o levou, então, a sair. Mas, mesmo assim, é preciso algum descaramento... Não sei o que, em menos de um ano, o agora regressado terá aprendido mas, a verdade é que a sua resistência não dá mostras de ter diminuído. 
Para Passos Coelho poderá não ser um lapso. Para nós é só mais uma prova de que os partidos políticos também têm, tal como as pessoas, "lapsus memoriae".

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Sentido prático

- Eu, ao menos, não vou ter que me preocupar com isso!

M., 13 anos, depois de me ouvir dizer que não sabia o que oferecer aos meus pais pelas suas bodas de ouro. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Sophia no Panteão

Parece que sempre se vai concretizar a trasladação do corpo de Sophia de Mello Breyner Andresen para o Panteão Nacional. Se pensarmos que esse é um acto que pretende homenagear figuras marcantes para o nosso país, a decisão faz sentido. A família também concordou com a ideia de reforçar o reconhecimento da importância desta mulher que diz muito aos portugueses amantes de poesia. 
Mas não posso deixar de pensar que aquele local, com toda a sua imponência de mármore gelado, é demasiado frio. O céu parece longínquo, com o enorme zimbório lá no alto. Algumas salas apresentam-se nuas, com os cenotáfios que pretendem lembrar figuras que os turistas (a maioria esmagadora dos visitantes) não perdem tempo a saber quem são. 
É certo que a trasladação do corpo de Amália Rodrigues alterou um pouco essa situação. Desde essa altura que vemos, junto ao seu túmulo, o colorido das flores e que os seus fados ecoam por todo o edifício, causando até alguma estranheza. E daqui a algum tempo teremos também os cachecóis encarnados, quando Eusébio estiver também neste lugar.
Não sei se dentro de alguns meses ouviremos poemas de Sophia declamados naquele ambiente barroco que, nem sei bem porquê, não consigo associar à autora, que vejo mais em dias de sol junto ao mar; mas parece-me que todo este movimento fará com que mais portugueses visitem este espaço, imponente, como  certamente se espera de um panteão, tornando-o mais humano, mais perto da terra, mais perto de nós.    

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

As dificuldades de investigar a vida das figuras históricas

Na rádio, a entrevistada, historiadora, respondia, entusiasmada, às perguntas. Como se o Marquês de Fronteira ainda estivesse vivo, fez notar M. Disse-lhe que isso é normal pois quando algum historiador pesquisa e investiga muito sobre uma figura nota-se uma forte ligação e é como se essa pessoa estivesse presente. M., assumindo-se como historiadora dos One Direction, diz então que a sua pesquisa é muito mais difícil pois eles continuam vivos e acompanhá-los todos os dias é muito exigente.

M., 13 anos

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Um exemplo

Nunca concretizei a ideia que tive há anos atrás de fazer uma análise sociológica do conteúdo das letras de canções às quais, a partir de um êxito de Emanuel, se convencionou chamar "pimba". Muitas delas continham em si referências muito importantes para determinados grupos e eu, confesso, ainda hoje me lembro de bastantes. Quando alguém à minha volta fala deste tipo de canções há uma que dou sempre como exemplo: "Vem devagar emigrante", de Graciano Saga. Este era ainda autor de outros temas bastante representativos deste género.
Hoje soube que Graciano Saga se chamava afinal Alfredo Braga e que faleceu num dos últimos dias. A chamada música pimba nunca mais será a mesma.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Pauta com pessoas

No meio de tanta coisa sem interesse que nos aparece via internet, às vezes encontramos umas pérolas.
É o caso desta fotografia, ou melhor, destas fotografias, tiradas em 1952 e cujo título é Boardwalk Sheet Music Montage. O autor é Harold Feinstein e a sua obra pode ser vista aqui



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A importância de uma guitarra

Dois rapazes conversam no metro. A um deles, que transporta consigo uma guitarra, o outro pergunta: 
- É pá, não é bué mau andar com isso? É que ainda é pesada.O outro responde:
- Não! Além disso as miúdas gostam bué! Então quando toco aquela seca do "Anda comigo ver os aviões"...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Esta vida não é para blogues

Abro a página e vejo que ele ainda aqui está. O meu "caderno de apontamentos electrónico". Mesmo votado ao abandono ele mantém-se tão acessível e disponível como no primeiro dia que resolvi dar-lhe vida.
Já vamos com um mês e meio deste ano, que ainda há bem pouco tempo era novo, e tantas coisas aconteceram entretanto. Tantos foram os assuntos que eu registei e que enchem o separador dos rascunhos... Alguns foram comentados por muitos. Outros ligam-se a aspectos mais particulares. Ficaram lá todos e ao olhar para eles agora percebo que, muitos, neste momento, dada a sua falta de actualidade, pouco sentido fazem.
Nestes meus dias imperfeitos a necessidade de fazer não me tem deixado tempo para reflectir. E o tempo do ócio é uma condição para essa reflexão e, sobretudo, para o seu registo. A questão principal é esta dificuldade em arranjar o tempo para estes "dias" e isso levou-me a pensar em desistir. 
Mas eu sinto-lhe a falta. E sinto a falta dos outros blogues que visitava e de que aprendi a gostar. 
Por tudo isto, mesmo tendo a sensação que esta vida que tenho não é para blogues, a minha vontade de recomeçar é grande. Será que vou conseguir?